Crônicas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Vida de Castor


Observar as pessoas frente aquele imenso corredor de espera do metrô é uma aula de perceptivo comportamento. O metrô não oferece um atendimento adequado aos seus usuários, está cada vez mais precário e de quinta categoria, mas é gostoso andar de metrô. Há sempre caras diferentes, muitas vezes indiferentes, mas quase sempre expressivas, quase sempre apressadas, apressando a própria pressa.

A passarela do metrô transmite uma ansiedade incrível. Todos olham para a mesma direção na esperança de ver a luz efusiva dos faróis do trem, e na esperança de entrar pela porta também, afim de não esperar mais uma rodada, de pé, a olhar pelo vazio corredor dos trilhos.

Internamente, o metrô parece uma manta retalhada de gente. Olhando por cima, nota-se uma espessa linha desconexa de cabeças próximas a outras cabeças. Olhos atentos analisando tudo e todos:

É o cara que olha o decote da secretária, é o velho tarado ávido por encochar uma bunda, é o estudante pensando na nota baixa que ele tirou, é a tiazinha (modelo clássico suburbano) em pé reclamando da lotação, o distraído plantado sempre na frente da porta. Enfim, são diversos modelos inseridos em infinitas culturas sob dezenas de protocolos sociais.

Assim é o metrô, ou qualquer outro lugar que possua um aglomerado de gente, disputando palmo a palmo, um metro quadrado de sobrevivência.

Carente de paisagens naturais, porém adjacente ao comportamento humano nas estações do metrô; encontramos a arte suburbana em quase toda sua existente extensão: A arte dos grafiteiros em expressões enigmáticas, a arte do Cirque de Soleil caracterizadas por ratinhos acrobatas nos trilhos, a arte dos vendedores de mentex, driblando a multidão continuamente. Isso sem contar na astúcia dos “mãos leves” fazendo mágica com a sua carteira...

E se por um lado vemos tantos rostos e feições, por outro lado existe um rosto tão enigmático quanto o sorriso de Mona Lisa. Alguém já viu o rosto do condutor do trem?

Muito engraçado, e nada enigmático são as nomenclaturas das estações do metrô: Capão Redondo, Tiradentes, Perus, Ferrazópolis e por aí vai. Estações sobram e justificam a grandeza dessa locomoção: Como é imenso o nosso Metropolitano diário! Um mundo praticamente subterrâneo de 61 km de extensão, mais de 50 estações e mais de 30 anos de fundação. Um mundo sem luz do dia com quase 3 milhões de habitantes.

Mas falando em estações, se comicamente vemos um trabalhador pegar seu trem ás 6 horas da manhã em pleno feriado do dia 21/04 com destino a estação Tiradentes, para outros, deve dar um alívio danado chegar à “Liberdade” e sair daquela prisão móvel ambulante...

No entanto, pior mesmo é ficar plantado no “Paraíso”, sem luz e sem energia, um verdadeiro sacrilégio.

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