Crônicas

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Vida de Castor


Observar as pessoas frente aquele imenso corredor de espera do metrô é uma aula de perceptivo comportamento. O metrô não oferece um atendimento adequado aos seus usuários, está cada vez mais precário e de quinta categoria, mas é gostoso andar de metrô. Há sempre caras diferentes, muitas vezes indiferentes, mas quase sempre expressivas, quase sempre apressadas, apressando a própria pressa.

A passarela do metrô transmite uma ansiedade incrível. Todos olham para a mesma direção na esperança de ver a luz efusiva dos faróis do trem, e na esperança de entrar pela porta também, afim de não esperar mais uma rodada, de pé, a olhar pelo vazio corredor dos trilhos.

Internamente, o metrô parece uma manta retalhada de gente. Olhando por cima, nota-se uma espessa linha desconexa de cabeças próximas a outras cabeças. Olhos atentos analisando tudo e todos:

É o cara que olha o decote da secretária, é o velho tarado ávido por encochar uma bunda, é o estudante pensando na nota baixa que ele tirou, é a tiazinha (modelo clássico suburbano) em pé reclamando da lotação, o distraído plantado sempre na frente da porta. Enfim, são diversos modelos inseridos em infinitas culturas sob dezenas de protocolos sociais.

Assim é o metrô, ou qualquer outro lugar que possua um aglomerado de gente, disputando palmo a palmo, um metro quadrado de sobrevivência.

Carente de paisagens naturais, porém adjacente ao comportamento humano nas estações do metrô; encontramos a arte suburbana em quase toda sua existente extensão: A arte dos grafiteiros em expressões enigmáticas, a arte do Cirque de Soleil caracterizadas por ratinhos acrobatas nos trilhos, a arte dos vendedores de mentex, driblando a multidão continuamente. Isso sem contar na astúcia dos “mãos leves” fazendo mágica com a sua carteira...

E se por um lado vemos tantos rostos e feições, por outro lado existe um rosto tão enigmático quanto o sorriso de Mona Lisa. Alguém já viu o rosto do condutor do trem?

Muito engraçado, e nada enigmático são as nomenclaturas das estações do metrô: Capão Redondo, Tiradentes, Perus, Ferrazópolis e por aí vai. Estações sobram e justificam a grandeza dessa locomoção: Como é imenso o nosso Metropolitano diário! Um mundo praticamente subterrâneo de 61 km de extensão, mais de 50 estações e mais de 30 anos de fundação. Um mundo sem luz do dia com quase 3 milhões de habitantes.

Mas falando em estações, se comicamente vemos um trabalhador pegar seu trem ás 6 horas da manhã em pleno feriado do dia 21/04 com destino a estação Tiradentes, para outros, deve dar um alívio danado chegar à “Liberdade” e sair daquela prisão móvel ambulante...

No entanto, pior mesmo é ficar plantado no “Paraíso”, sem luz e sem energia, um verdadeiro sacrilégio.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Isabela vida de aquarela

Isabela vida de aquarela

Isabela muito longe de ser cravo e canela
Brinca de bela, de aquarela, num mundo só dela
Isabela, bela, belinha
Sorridente e querida menininha

Você nos faz brilhar em uma conjunção que vai além de qualquer galáxia estelar
Isabela, bela, belinha
Você é um diamante raro a ser lapidado
Você é um dia belo em pleno céu claro

Isabela, bela, belinha
Seus olhos de menininha a vibrar
Quando sua mamãe que tanto te ama
Te abraça pra te mimar

Isabela, bela belinha
Você desperta a futura mocinha
Que amarei bem depois de se tornar uma mulherzinha
Dócil, meiga, e bela a nossa belinha

Isabela, bela, belinha
Você é a minha alegria
E da sua mamãezinha

Choro da minha criança com orgulho e esperança
De ver você aflorar e continuar a nos emocionar
E Que os anjos continuem a te encantar
Em uma eterna brincadeira de bailar.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Os embalos do amor e os seus abalos


Algumas pessoas colocam o amor num plano inalcançável, tão alto que elas mesmas não conseguem alcançar e passam a vida a se queixar. Outras pessoas proclamam o amor como político discursando sobre sua candidatura, mas se esquecem que a inveja sofre de insônia e com isso, vivem perdendo seu amor por conta do olho gordo alheio da dita cuja.

Eu prefiro fazer diferente. Que tal fazer do amor um produto fundamental de estante? Que tal catalogar o amor?

Amor sem juízo que nos atira ao precipício com uma simples impulsão do ser alheio.

Amor promissor que nos causa a dor, a dor da ansiedade de sair logo de casa e saltar nos braços do causador.

Amor imaturo que substitui a intelectualidade de uma biblioteca pela fralda suja de uma criança no jardim de infância.

Amor democrático que nos é acessível sem mensurar estética, profissão, padrão ou jeito de ser.

Amor aristocrático que é concebido a poucos afortunados. Implica vaidade, ganância e narcisismo. É o ter sem precisar do ser.

Amor segmentado que consiste no específico, nas minúcias, no cartesiano e no fragmentado.

Amor platônico que se ajoelha para o espelho, para o umbigo e para uma conjugação única de uma sombra. Entretanto, para todo amor platônico há sempre uma trepada homérica.

Amor lúdico que nos faz viver uma roleta russa ou um jogo de pôquer. É brincar pra ver e não pagar pra acontecer.

Amor de liquidação que nos faz escolher e ser escolhido feito fruta na quitanda da feira. E que venha o próximo da banca, quer dizer, da fila.

Amor profissional que nos causa ressaca matinal e ânsia do arrependimento. Geralmente esse amor (por ser “profissional”) é sempre acompanhado do suor do corpo.

Amor cego que nos causa uma vontade de ler Shakespeare, mas no final das contas, se existe amor cego, é bom ir apalpando não é mesmo?

Amor preventivo que nos faz planejar, repensar e pensar ao abrir a boca, mesmo sabendo que palavras ditas não voltam atrás, porém essas mesmas palavras ditas pertencem 50% ao ouvinte e 50% ao locutor.

Amor reacionário que nos prende o pé em uma bola de ferro limitando nosso espaço geográfico e que nos enfia um cabresto feito jegue de carga, justamente pra não vermos nada além da nossa amada.

Esses amores foram extintos e reservo-os somente à minha literária imaginação. São homenageados com empáfia percepção, sem muita atenção e pouca devoção.

Não mencionei o amor estupendo, o amor que estou vivendo, que estou conhecendo e que estou recebendo sem estar perdendo, perdendo absolutamente nada!

Amor indescritível, inigualável e mais ainda: inexplicável!

Desnorteado, apoteótico, indagado, reverenciado... Amor é sempre amor e apesar de tudo, o amor é sempre tudo!

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Exótica dieta


Não importa onde você esteja e não importa o que você faça ou com quem ande, engolir sapos será algo certo em sua vida, caro leitor.

Tão qual a primeira menstruação, o primeiro pé na bunda, a primeira perda total alcóolica ou o primeiro nike air. Engolir sapos será praticamente um pedágio em sua vida, ou pior, vários pedágios, tipo a estrada Rio - Santos.

Engolir sapos é uma ação que reflete sempre respeitando uma ordem hierárquica! Ninguém engole sapos de um mesmo nível social ou abaixo dele, isso é idiotice! Engolir sapos implica participar ativamente de uma gestão onde o diálogo, a tolerância e a réplica são fatores obsoletos. A insensatez na sua maior essência!

Aliás, vamos deixar a parte subliminar de lado e citar outro habitat natural do sapo: o casamento. Quem casou e já cansou sabe o que estou falando, se o casamento estiver indo pro brejo, certamente o “coaxar” será um som a se democratizar em seu relacionamento.

As diferenças se tornam mais visíveis, os defeitos se tornam maiores que as virtudes. Enfim, não tem jeito: Antes de chegar à árdua decisão de não usar mais a mesma escova e não dividir mais o mesmo teto, você irá engolir muitos sapos até lá.

Agora vamos debater a ficha técnica do sapo. Esse raio x é sem dúvida uma imposição que vem lá de anos trás:

O sapo por si só já se encarrega de ser algo grotesco e nojento. Vem da família dos anfíbios (adaptação em mar e terra), é personagem cativo das histórias de bruxas, vampiros e monstros. Isso sem mencionar na folclórica lenda da celibatária e ingênua garotinha beijando um sapo e o mesmo virando um príncipe.

Em outras palavras, a reputação do sapo se perdeu em alguma lacuna da história. Oras, alguém já viu as bruxas fazerem feitiçaria com texugos, coelhos, tartarugas ou até mesmo râmsters?

Não adianta, o sapo é indiscutivelmente o ser mais repulsivo dos seres. As próprias bruxas transformavam seus inimigos em sapos, ao invés de qualquer outro bicho. Definitivamente o sapo não é o tipo de animal que agrada as pessoas. Está longe de ser um bicho afável e sensível, anos luz de ser um bichinho de estimação!

Sapo, perereca, rã, isso não faz a mínima diferença! Indubitavelmente teremos que agüentar uma situação desfavorável, ir contra nossos próprios princípios e suportar a mais cruel das ofensas: a submissão!

De qualquer maneira, á medida em que presenciamos a transição da adolescência, carregamos juntos um universo de obrigações, projetos, decisões e sapos.

Não importa o caminho que você escolha traçar para seguir adiante, haverá sempre um sapo cruzando sua estrada. E como será inevitável não comê-los, que seja com classe e com arte.

Mas lembre-se: Não basta engolir o bicho, é necessário digeri-lo também.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Unidos pela mobília


Finalmente vocês irão sossegar e transformar uma vida enfadonha em duas divertidas. Economizaram uma graninha ao longo dos 8 meses de indecisão + 2 anos de namoro + 3 anos de noivado + 1 ano de casado e hoje estão prontos para mergulhar na atmosfera imobiliária.

Vejamos o que tem por aí, afinal de contas o casamento pode ser mutável, mas a mobília é um canto sagrado e tudo é “impermanente” em nossas experiências:

Uma casa ao sonho brasileiro: dois quartos aconchegantes, uma ampla sala de estar, uma razoável sala de jantar, dois banheiros (ninguém quer compartilhar desses momentos higiênicos, soltar pum é não é um ato coletivo), uma bela garagem e um ótimo quintal, perfeito não? Sim, seria perfeito se a multiplicação na segunda linha fosse um pouco maior, aí assim a economia também seria.

Pelo mesmo preço dessa casa daria pra comprar um espaçoso terreno de primeira categoria no deserto do Saara, ou ainda um belo chalé no morro do Vidigal, ou quem sabe duas coberturas com laje para tomar sol e vista panorâmica para Avenida Águas Espraiadas (isso mesmo, aquele “terreno” quase na esquina da Berrini).

Opções sobram, mas faltam pra quem tem bolso de moeda. Entretanto, vale lembrar que uma vida de casal possui atenuantes bem mais necessários do que um simples teto, como aproveitar todo esse tempo juntos, que antes se resumia á encontros de finais de semana, como administrar a direção que essa união vai tomar, como conjugar um amor genuíno e altruísta que trouxeram vocês aqui diante desse futuro teto. Enfim, uma infindável série de percursos visando apenas à devoção e a vivência afetiva, sem arremessos de panela, levantamento de cadeiras ou aquecimento das cordas vocais...

Além de todo esse minucioso e delicado processo entre vocês, existe ainda a cultivação da tolerância dos padrões convencionais entre vizinhos: Dar bom dia mostrando toda sua arcada dentária, mesmo quando a noite foi de pura insônia (por conta do ronco dele), ser solícita sempre, afinal de contas, amanhã você pode ter esquecido de comprar fermento e o vizinho é o nosso mercado delivery (só nosso), basta interfonar ou tocar a companhia, seu apuro passou.

Ao mesmo tempo nos deparamos com algo antagônico nesse convívio geográfico: agüentar as visitas indesejáveis e fora de ocasião que os vizinhos adoram praticar, ora pra falar da novela, ora pra falar do tempo, ora pra fazer hora, sem contar os inúmeros convites que fazem e que são complicadíssimos de rebater com um não. Tipologias clássicas da nossa cultura urbana, clássicas, porém chatas, tão chatas quanto mágico em festa infantil.

Mas se o hiato é mesmo com a vizinhança, o jeito é procurar uma casa num local afastado, sem vendedores batendo á porta, sem a caixinha de Natal do lixeiro, sem taxistas parando o carro indevidamente em sua porta. Uma vida tipicamente á três: você, sua esposa e a mais nova moradia, mais nada.

É como morar na praia sem o mar. E falando em praia, isso me lembra a natureza que vocês optaram viver: Que tal dormir ao som impertinente das cigarras em cima da árvore? Ou se deparar com um inusitado e variado ecossistema de insetos invadindo a cozinha, a sala, o banheiro? Sem mencionar na sinfonia ao pé da orelha dos nossos lendários inimigos pernilongos, promissor hein?

Chega dos subterfúgios da flora e da fauna. O jeito é reencontrar o caos suburbano e o colapso social na cidade grande. Vocês querem mesmo a animação da noite paulistana e seus contrastes culturais.

Com a grana da venda da “casinha de sapê”, vocês arrematam um “apê” enxuto e totalmente “zen”: “zen” excessos, “zen” muitos cantos e “zen” regalias, localizado no centro da cidade, algo mais antigo, ideal para pessoas dinâmicas como vocês, afinal de contas, pra que ter tanto espaço se vocês se amam e pretendem ficar grudadinhos?

Opa opa, mas pintou outro hiato: e pra suportar o cheiro do centro da cidade, como vocês farão?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Tarefa para sábios


Reconhecer os nossos defeitos ocupa os charts do bom comportamento, encabeça o “Top Ten” da lista das coisas mais belas e exemplares das nossas vidas. Mas o que dizer da feiúra, as pessoas reconhecem com esportividade o despojo estético?

Com exceção de alguns fenótipos que reverenciam as origens dos milenares ogros do pântano, mocorongos, ou monstros saídos da mente de Stephen King, a feiúra, de certa forma, possui algum atrativo. Alguma coisa ali te agrada, te deixa curioso, desperta interesse. Isso porque geralmente o feio desenvolve algo que muitas vezes é desconhecido pela facilitação da beleza: A inteligência e o bom humor.

Entretanto, é interessante avaliar o estereotipo do feio. Ele não tem imagem esperando por ele. Não se envaidece da própria beleza, mas sim da beleza da mulher, dos filhos e da mãe. Não se prende a facilidade, pois nunca teve facilidade na vida. O terror que se abate na feiúra faz com que a mesma se torne uma das formas mais latentes de exclusão social, (feminina e masculina).

E o esforço? Ahhh, o esforço é sempre posto em prática, até mesmo dentro da própria casa. A feiúra incomoda o público, ninguém aplaude; A educação foge, sai correndo e isso é simples de enxergar: Ninguém abre a porta do carro, puxa a cadeira para sentar, dá preferência de faixa no trânsito, fornece rapidamente algum tipo de informação.

Atendimento em lojas de grifes então nem pensar, e nesse purgatório de menosprezos, é melhor nem arriscar comparações, os mal diagramados realmente sofrem com a espera e com a falta de solidariedade. Ser feio é padecer no paraíso!

A feiúra está sempre sendo justificada, seja em blogs, em charges, em revistas e em crônicas. A beleza fica ali, recebendo agrados e afagos, gentilezas e reverências, ocupam as melhores posições e ângulos do universo publicitário, porém não há filtragem de caráter. Ser belo atrai uma gama de diversificações tal como a cidade de São Paulo e seus “estrangeiros” regionais.

Mesmo assim, existe algo de extrema supremacia na feiúra. É bom que se olhe para o futuro com carinho, atenção e sabedoria, pois chega um momento em nossas vidas que não se cobra beleza, mas sim postura, intelectualidade e cultura, fatores que muitas vezes são ignorados pelos lindos e afortunados estéticos.

Tudo bem, tudo bem, você vai me dizer que isso não é o suficiente, concordo, um cuidado moderado e contínuo não custa muito, faz um bem dos infernos e a auto-estima, essa sim, aplaude de pé!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

De tesouro a estorvo


Se existe algo que faz a vida ser bela é justamente as surpresas e os sustos que ela nos oferta gratuitamente e sem correspondência, sem nosso aval e sem um aviso prévio.

Navegando á esmo pela internet, parei num site de locação de filmes cujo tema abordava algo ligeiramente repetitivo: “Caça ao tesouro”, de fato, talvez não seja realmente o ambiente metafórico da coisa, e sim algo que está sempre rondando as nossas vidas.

Caminhamos inesgotavelmente em busca do nosso tesouro, enfrentamos filas mais extenuantes que a do S.U.S, garimpamos feito loucos na antiga Serra Pelada em busca de alguém que nos faça acontecer. Isso quando não protagonizamos algum filme épico sobre elfos, guerreiros, magos e por aí vai. Tipo “Senhor dos Anéis” (parte MCMLXVI).

Nesse Universo concorrido, não nos cabe ter currículo, back ground, know all, experiência. Aliás, pra que ter experiência se você vai lidar com pessoas que se renovam constantemente a cada topada?

Não há receita, esqueça a Maria Braga! O negócio é ter paciência, porque a paciência está diretamente ligada ao propósito. Se você realmente almeja aquela “coisa” (sentido duplo literário), você tem paciência! Quando rola uma incerteza, você se apressa, fica ansioso pra chegar logo ao “satisfatório”, e, por conseguinte, vai variando mais que fruta na feira.

Interessante mesmo é analisar quando nós somos o tesouro:

Você elevou seu grau de criação ás alturas só pra chegar naquela “coisa”. Utilizou-se de todo seu arsenal conquistador: Verbalizou, articulou, diagramou, carismou, encantou... Enfim, fez de tudo para transformar a visão extensiva e plural que ela tinha no singular, olhando só para você!

Patrocinou com ela uma vida de ardentes emoções, representando todas as possíveis congruências gramaticais da nossa língua. Iniciaram a vida no superlativo, chegaram à hipérbole e hoje vivem no silogismo mais que perfeito:

“No passado eu era teu único tesouro, mas toda regra tem sua exceção. Isto é uma regra, logo, deveria ter exceção. Hoje eu sou um estorvo, portanto nem toda regra tem sua exceção”.

E toda aquela sublime dramaturgia sai dos holofotes dando lugar a um conto do Zé do Caixão, onde a mocinha, toda carismática, cheia de ternura e bons modos se transforma naquele ser hediondo, com cobras na cabeça.

Esse ser peçonhento e tóxico faz de tudo pra te irritar, faz você se sentir um inapto perto dela e difamá-lo sem local de exposição ela o faz por puro passatempo. Os adjetivos dela foram tele transportados para outra dimensão, agora você só recebe impropérios e críticas e, mesmo sem saber a resposta, se pergunta: O que me prende á essa mamba negra?

Do céu ao purgatório sem razão racional, não importa se o amor acabou na mesma canção que começou, ou na mesma balada ou no mesmo bar. O todo sempre acaba sempre e aos poucos encontramos nossas arestas em algum canto das nossas vidas.

Você se cansa de esperar o “até lá” e começa a viver o “vamos lá”. As ondas recuam para a criação de outras, a fila volta a crescer.

É a dança da vassoura com um auditório repleto de gente. E sem notar retomamos nosso rumo, tentando não repetir o mesmo caminho porque esse é o caminho da maioria das pessoas, já percebeu isso? Elas fazem muitas coisas, uma porção de coisas, mas nunca fazem absolutamente nada, porque não sabem o que querem.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Deus salve meus tímpanos


O universo musical encontra-se em pleno ponto de ebulição. À medida que evoluímos em condições sociais, tecnológicas e inovadoras, o mundo retrocede musicalmente, é como se os gênios musicais estivessem sobre uma escada rolante inversa ou ficaram congelados nas décadas anteriores.

De muitos anos pra cá, o hemisfério musical vem decepcionando os apreciadores de boas canções. Apesar do clichê “gosto: cada um tem o seu”, a poluição sonora é visível e latente em todo o Globo. O capitalismo contaminou nossos artistas e suas músicas, e o principal coeficiente dessa trama toda se chama “estratégia de marketing”.

Nada contra essa profissão, mas noto que hoje somos obrigados a ouvir o que as rádios querem tocar, somos forçados a ver artistas pop “pré fabricados” destinados a alcançar um único objetivo: entreter a massa que apenas ouve sem nenhum senso crítico, imbuídas por uma lavagem cerebral comercial, sórdida e emburrecedora.

Observo, indignado e impotente, o triunfo da banalização, da apelação e da mediocridade. O controle remoto já não me oferta mais consolo, porque sei que desligar a televisão ou o rádio não fará diferença alguma, milhões de idiotas desorientados continuarão a reverenciar a decadência musical. A população se tornou refém dessa influência imbecil e pragmática!

Em tempos modernos, presenciamos a tórrida degradação cultural. No Brasil, a desvalorização musical gerou uma parceira: a desvalorização pessoal. Para criar “música” nos dias de hoje basta ter olhos verdes, ser filhinho de papai, cantar música sobre bunda com bundas rebolando no palco e pagar jabá pra rádio, ou botar silicone até na panturrilha, usar calça jeans cintura baixa, ter nome de fruta, cantar funk carioca e pronto: você já é uma artista!

As músicas de hoje rumam para uma estagnação de ideias. Não há mais inovação nas canções, não há melodias e não há mais arte em se criar. E se algo resiste á essa cultura pré-estabelecida, é devidamente sepultada pelos nazistas ideológicos musicais, vulgos empresários e mídia.

Mundialmente falando, esqueça os reis soberanos como Elvis Presley e Michael Jackson; esqueça as bandas inteligentes com músicas inteligentemente bem construídas como New Order, Duran Duran, A-Ha, Ramones, Billy Idol, Smiths e milhares de outros iconoclastas dos anos 80. Mesmo assim, sou um personagem feliz que presenciou uma era oitentista exclusivamente feliz, tenho compaixão e presto minha solidariedade ás pessoas que não presenciaram as boas músicas de antigamente.

Traçando uma linha do tempo informativa, vale uma pergunta: Se as músicas dos anos 70 falavam sobre direitos e conquistas; se as músicas dos anos 80 ditavam moda e revolucionavam a sociedade e se as músicas dos anos 90 foram inovadoras, inclusive gerando estilos diferenciados... O que dizer sobre as músicas e os artistas de hoje?

Bem, eu diria que as músicas e os artistas de hoje são como o futebol: todo mundo quer jogar num time de ponta, mas a maioria não passa das “peladas”.

Ainda bem que temos o tempo como crítico musical: ele é implacável com o que não presta e épico com o que fez a diferença no passado!

Um brinde ao bom gosto!




quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Memórias de um fígado


Empenhado em aproveitar uma vida dissoluta de intermináveis e efêmeras noites de prazer, ele tratou de me ingressar (desde o colegial) a ingerir doses pesadas de bebidas alcoólicas...

No prefácio da comprovação da minha sobrevivência tinha de tudo, ou melhor, eu engolia e suportava tudo: começava nos esquentas (com cervejinhas) que antecediam a farra promíscua de uma noite desperdiçada de sono, indo parar nas vodkas, nos bomberinhos, nas catuabas e nos conhaques vendidos ilicitamente pelas barraquinhas dos ambulantes nas ruas.

Ao final de uma noite incessante de alcoolismo eu tinha absorvido até chiclete e papel de cheeseburguer, pasmem, tamanha era a insanidade mental do meu dono que, ao mesmo tempo em que me afogava em destilados, tentava compensar-me com engov, epocler e água quando chegava em casa.

Acho que eu deveria ter sido mais respeitado durante minha existência, sabe? Eu me dou o respeito e me acho o tal. Não sou um objeto qualquer e muito menos passivo de troca, aliás, isso ainda é raro de se ver! Sei que sou feio e roxo, mas também pudera: como ser um gato diante de amigos hediondos como vesícula biliar e abdômen?

Passei anos sendo tratado como se fosse uma prega do ânus e, assim como ela, só vai dar valor quando perder. Gostaria de ter nascido dentro de um telemarketing ou de um atendente de SAC, assim minha dieta se resumiria a engolir sapos e nada mais!

E já que estou desabafando, vou dizer outra coisa (tão injusta quanto o que esse filho da puta desse meu dono faz comigo). Vocês sabiam que o coração leva a fama das minhas funções? Quem disse que a expressão “assim você me mata do coração” é verdadeira?

Esse viado não tem nada a ver com isso, quem produz endorfina aqui sou eu! Eu que faço você ter prazer quando devora uma barra de chocolate ou se acaba em uma torta holandesa. Sou eu quem te dá à noradrenalina, a dopamina, a serotonina e por ai vai... Seu ingrato!

Os anos se passaram e os anos me esgotaram. Hoje devo ter uns 40 anos de idade com funcionalidade de 70 anos. Me sinto dilacerado, debilitado e ensangüentado. O pragmatismo e a inércia do dono desse corpo venceram minha esperança, porém, algo me reconforta: se tenho 40 anos com jeitinho de 70, imagina o cara que me carrega todos os dias?

Você não consegue me ver, mas hoje consegue mensurar a dimensão do teu sofrimento através das minhas reclamações a se espalhar por todo o seu corpo. E se isso te serve de consolo, ao menos você carrega um aprendizado deitado nessa maca:

O mundo não fecha os olhos muito menos pára para cicatrizar teus erros infames e ininterruptos de bebedeira e boemia.