Crônicas

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Halloween tupiniquim


Já notaram como aqui a gente adora um feriado ou uma boa data festiva? Isso é uma coisa que não falta em nosso complexo calendário. O problema é que em algumas ocasiões, certas festas assemelham-se mais com nossa própria realidade do que com um doce conto de fadas.

Nosso governo, nossas leis, nossa economia, sintetizam muito a idéia do Carnaval (muito embora o Carnaval seja levado a sério, pra quê?). Todo mundo se fantasia enquanto que os “donos do poder” assistem de camarote (e no camarote) o povo brasileiro literalmente “dançando”. Entretanto, nossa intricada e frágil sociedade pode ser tragicamente associada a uma festa que não vem dos nossos trópicos: O Halloween ou dia das bruxas!

Não estou aqui para criticar essa tradição, afinal de contas, trata-se de um ritual pagão difundido pelo lendário povo Celta (local onde hoje estão situadas à Irlanda, Norte da França e o Reino Unido). Da imigração européia para o Tio Sam e muitos anos depois: Brasil.

O que me faz cair na risada é saber que, enquanto os mais afortunados se fantasiam de bruxas, duendes, fantasmas, vampiros e incorporam um verdadeiro espírito de Halloween. Os mais desfavorecidos se empobrecem num país onde a prioridade governamental é o descaso e o desinteresse em modificar a situação. Aos meus olhos, os homens do poder são bem astutos no desenvolvimento de taxas faraônicas de impostos dos mais variados e assustadores tipos. Isso é reverenciar a prática do vampirismo, um típico sanguessuga diurno.

O mais engraçado é avaliar a situação em época de eleição, todos (sem exceção) viram príncipes para ganhar o voto do povo. Prometem acabar com as pragas e as bestas do apocalipse social brasileiro: a fome, a miséria, a violência, a desigualdade.

Depois de eleito, como num passe de mágica, a mutação aparece: De príncipes á terríveis bruxas, dispostas a encher o próprio caldeirão. De dinheiro é claro, o que você imaginou?

Nosso país vive um autêntico e escabroso filme de terror onde as quatro bestas do apocalipse ultrapassaram a porta da imaginação e hoje infestam de realidade e pavor os jornais com notícias que encheriam de orgulho os olhos do inigualável Stephen King.

As comparações não param por aí: Com a violência, somos obrigados a vestir armaduras, saímos de nossas casas sem saber se voltaremos, olhamos apreensivos de um lado para outro nas ruas. A desconfiança e o medo imperam nas cidades, tão implacáveis e imortais quanto Jason e suas intermináveis “Sexta - Feira 13”.

E com isso a generosidade, o prazer de um olhar gentil ou de um aperto de mão vão caindo no abismo chamado ostracismo.

Em meio á tantos Lobisomens, vampiros e bruxas, a inocente Reagan, do clássico Exorcista reflete os rostos desolados das crianças sem ensino, sem recursos, sem herança social, protagonizando apenas as vítimas de uma história aparentemente sem final feliz.

Que o brasileiro irá se fantasiar de bruxa, diabo e outros seres horripilantes em todos os meses de outubro isso não há dúvida, mas acho que na hora de eleger um cidadão que irá comandar um país, ou a cidade em que você vive, poderíamos levar tal responsabilidade mais a sério e deixar os pesadelos, os sustos, e os “trick or treat” da vida somente para 31 de outubro!

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